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Nove autores e uma página da web em branco

“Transitivos” reúne 9 autores que fizeram de seu blogs cadernos de exercícios literários

Utilizar o blog como ferramenta de exercício literário. Eis o que fizeram os 9 autores reunidos no livro Transitivos. Lançado no dia 12 de agosto, na Livraria da Vila, a obra é uma publicação da OFF Produções Culturais. Ilustrado pela artista plástica Adalgisa Campos, o volume reúne contos, crônicas, poemas ou simples provocações líricas.

Transitivos é uma coletânea de um grupo de escritores que utilizam o blog como suporte para seus experimentos poéticos e ficcionais”, afirma o editor e organizador Hugo Malavolta. Realizado com apoio do ProAC (Programa de Ação Cultural) do Governo do Estado de S. Paulo, o projeto começou a ganhar contornos há um ano.

Convidados pelo editor, os autores Adriane Bertini, Clara Lobo, Humberto Pio, Juliana Amaral, Kevin Kraus, Márcio Dal Rio, Maria Carolina da Costa Coutinho e Maria Eugênia de Menezes iniciaram uma intensa seleção de textos em seus sites autorais.

“A união de diferentes tipos de trabalhos, imagens e links moldou a internet como a mais poderosa ferramenta de comunicação e disseminação de conhecimento da atualidade. É com essa ferramenta que novos escritores e artistas têm a possibilidade de levar ao público seus trabalhos, à maneira dos fanzines das décadas passadas”, afirma Hugo.

As ilustrações de Adalgisa Campos, feitas especialmente para o livro, merecerão uma exposição na noite de lançamento. Autor do blog “Poesia à Mão”, o poeta Pedro Marques assina o prefácio, analisando autores com formações e estilos tão diversos. “Está desgastado o jeito melódico de amalgamar a unidade, mesmo que em movimentos, capítulos, seções”, define Marques. “Chega à sua mão um cluster coletivo bem-vindo da Internet. Cada cacho com sua aposta e a quebradeira de gêneros comendo solta.”

A seguir, um resumo de cada autor, por Pedro Marques.

Clara Lobo parte do poema em prosa bate na canção praieira de Dorival Caymmi, indo e vindo num ritmo de pau-de-chuva. Essa escrita correnteza de riacho, no entanto, dá corpo a uma espécie de eu traumático. As vozes que aqui se levantam tendem a gritar alguma ferida aberta ou já cicatrizada.

Adriane Bertini solta os bichos, plantas e pedras que resistem à cidade. Vai naquelas miudezas em que Ana (“Amor”, de Clarice Lispector) se refugia na cozinha ou no parque. No plano aberto, os humanos que fazem algum sentido são mutantes. Em ritmo fluente, os poemas fundem catalogação naturalista, fábula e ecologia cotidiana.

Marcio Yonamine possui poemas assentados num paralelismo que, assimétrico, joga mas recebe outro bumerangue. O poeta transporta a arte do origami para a poesia, dobrando a língua com a leveza da escultura de papel.

Maria Eugênia de Menezes bebe tudo com olhos de apartamento, esses instantâneos encenam um eu neurótico que de tanto explicar se irrita até com a alegria alheia. A crônica jornalística de um Rubem Braga tinha extensão parametrizada, já essa é movida à vontade, pulando do palco social para o registro miúdo.

Kevin Kraus é agressivo no sarcasmo e no lirismo. Prepara um “direto no meio da cara”. Poesia que não anestesia o dodói, mas brota da própria luta com medos, culpas e traumas. A sintaxe límpida e o ritmo decantado ao pé do ouvido animam a catarse de sentimentos soterrados.

Humberto Pio fotografa em sépia, arte de frear o tempo, poeira de antiquário. O fato passa e o cheiro é enfrascado no texto. O tempo ganha do homem, quando a gente aprende o remédio a ferida já é outra.

Juliana Amaral faz da linguagem um ciclone de paixões, despede as vigas comuns ao conto. Até as ilustrações são mais abstratas neste cluster. Com certos experimentos de Vilma Arêas, amarra nossa atenção à ventania das sensações, às vezes, lirismo puro.

Marcio Dal Rio compõe poemas em prosa melodiosa afiando dramas. Fala de um mundo que faz da pessoa número. Escreve toadas de amor perdido. Em seus versos livres, repetições irônicas, infantis, de quem ri de si. Palavra que chama palavra pelo som e brota quase uma canção.

Maria Carolina Costa Coutinho às vezes dispara a enumeração, você diante de um carrossel de ideias. Ela estrutura o verso livre pela recorrência de palavras-chaves, anáforas e estruturas frasais. Há reflexões íntimas descortinadas em movimento, como se a poeta descobrisse o destino do tema na hora da escrita.

Informações para a imprensa:

Márcio Dal Rio: marciodalrio@uol.com.br  tel: 8104-7126
Maria Eugênia de Menezes: mefmenezes@uol.com.br  tel: 8301-6229

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